Apesar da quebra de safra de grãos, déficit de armazenagem aumenta e chega a quase 100 milhões de toneladas
País precisaria investir R$ 10 bilhões por ano, durante dez anos, para conseguir zerar a falta de unidades que armazenam grãos
São Paulo, 4 de Fevereiro – O déficit de armazenagem no Brasil aumentou nesta safra, em comparação com o cálculo do ano passado, mesmo com a quebra de produção, que reduziu a estimativa de colheita de 291 milhões de toneladas para 278 milhões, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Segundo estudos encomendados pela Kepler Weber, empresa líder na América Latina em soluções de pós-colheita, o Brasil não tem onde guardar cerca de 97 milhões de toneladas de grãos.
“O aumento do déficit de armazenagem prejudica a segurança alimentar e a eficiência logística de nossa produção, que segundo a Conab tem crescimento estimado em 12,5% este ano”, comenta Piero Abbondi, CEO da Kepler Weber.
Apesar do crescimento do déficit, a companhia atingiu volume de obras contratadas recorde no segundo semestre do ano passado, com 268 projetos, 68,5% maior que o mesmo período de 2020. O executivo diz que produtores estão capitalizados e investindo, mas, ainda assim, os recursos são insuficientes para acompanhar o crescimento da safra.
Um estudo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), feito com base na produção de 2020, mostra que seriam necessários investimentos de R$ 10 bilhões por ano, durante dez anos, para o Brasil conseguir zerar o déficit de armazenagem.
“Hoje, se transformarmos o valor do investimento de uma unidade de armazenagem em sacas de soja, o produtor investe uma menor quantidade de grãos do que teria que dispender anos atrás. Sem contar que o payback melhorou, estando na casa de seis anos atualmente, além de agregar valor ao pós-colheita, tornando esta etapa até 15% mais rentável”, afirma.
O Plano Safra, que destinou, em julho do ano passado, R$ 4,2 bilhões em recursos, por meio do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), também não tem sido suficiente para acompanhar o crescimento do déficit. Para esta safra, o valor previsto pelo Ministério da Agricultura, com juros subsidiados, foi 84% maior que a janela produtiva 2020/21.
Além do déficit, o Brasil enfrenta outro desafio: levar para dentro das fazendas as unidades de beneficiamento e armazenagem de grãos, já que hoje apenas 14% da estrutura para estocar grãos, segundo a Conab, estão nas propriedades rurais. Para efeito de comparação, União Europeia tem 50% das unidades nas fazendas, os Estados Unidos 56% e o Canadá 80%.