Governo deve pelo menos manter crédito para armazém, avalia consultor
Apesar de ver sinais claros de que o “cobertor está curto” o governo subvencionar o crédito para a safra 2022/2023, o montante destinado para financiar a armazenagem no Brasil deve ser, ao menos, mantido no próximo Plano Safra. As taxas, no entanto, devem ficar maiores, avalia o consultor em Agronegócios Carlos Cogo. Segundo ele, o segmento segue sendo uma prioridade para o Ministério da Agricultura.
“Acredito que há uma chance de pelo menos manter os recursos porque, em ano de eleições, seria um tiro no pé reduzir o volume, mas a taxa, lógico, vai subir. Espero que não atinja os dois dígitos”, diz ele.
Os R$ 4,2 bilhões anunciados em junho do ano passado representaram um aumento de 84% em relação ao volume do ano anterior. Para financiamentos de armazéns com até 6 mil toneladas nas fazendas, a taxa de juros subiu de 5% para 5,5%. Para os demais, aumentou de 6% para 7%. A carência é de três anos e o prazo máximo, 12 anos. Atualmente, o protocolo de pedidos de financiamento e a contratação de operações de crédito da linha estão suspensos.
O déficit de armazenagem da safra de grãos no Brasil é calculado em mais de 90 milhões de toneladas. O superintendente de armazenagem da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Stelito Reis, diz que a situação é uma das preocupações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que deve manter sua política de incentivar a construção de novas unidades, principalmente dentro das fazendas, visando resultados de médio e longo prazo. Ele não arrisca, no entanto, fazer previsões de volume ou taxa de juros.
Na terça-feira (31/5), em reunião como ministro da Agricultura, Marcos Montes, em Brasília (DF), representantes da indúsria de máquinas sinalizaram ao governo que a demanda de crédito para a construção de armazéns é de R$ 15 bilhões. E reclamaram que os financiamentos acabam ficando concentrados em grandes empresas e cooperativas. Em resposta, o governo indicou que estuda uma forma de colocar limites nas contratações, mas pontuou que o volume de recursos vai depender da capacidade de equalizar os juros.
Aumento nos negócios
Bernardo Nogueira, diretor comercial da Kepler Weber, diz que houve um grande aumento de negócios nesse setor desde 2020, com a concentração de 260 projetos simultâneos no ano passado, mas seria necessário pelo menos dobrar os investimentos anuais do Programa para a Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) em dez anos para resolver o problema do déficit de armazenagem.
“O recurso estratégico do governo no Plano Safra é importante e cumpre sua função, mas há outras opções de financiamento privado e o produtor também está usando cada vez mais recursos próprios. Hoje, esse percentual já se aproxima de 50%”, diz, detalhando que 30% dos projetos na Kepler são financiados com recursos do BNDES, 35% com bancos privados e o restante com recursos próprios.
Entre as opções privadas, ele cita a linha recém-lançada pela empresa na Agrishow 2022, em Ribeirão Preto (SP). O prazo para pagamento de até dez anos, carência de 18 meses e taxas de juro de CDI mais entre 4,5% e 5,5% ao ano, dependendo do rating do cliente. Nogueira afirma que a vantagem é ter mais rapidez e flexibilidade no financiamento e que mais 60% dos potenciais usuários são clientes recorrentes da empresa.
A Kepler reservou um volume (não revelado) para bancar os financiamentos por 12 meses, mas já pensa em aumentar os recursos diante da alta procura. A linha pode bancar bancar até 100% do projeto, incluindo infraestrutura civil e elétrica. De acordo com o executivo o agricultor começou a pensar mais nos últimos cinco anos em como melhorar sua produção, depois de ter investido na abertura de terras e em máquinas agrícolas.
“O produtor está capitalizado e o investimento em armazenagem hoje é 35% mais vantajoso do que há dez anos. Com armazém próprio, a rentabilidade do agricultor aumenta entre 15% e 20%, com um payback médio de 4 a 6 anos”, diz ele.